O futuro é vegano

Entenda por que os cientistas apoiam o veganismo





O veganismo não é um simples modismo culinário - embora há quem o trate assim por não compreender a sua profundidade. Também não é sacrifício nem restrição alimentar. O veganismo é a rejeição da exploração dos animais. 

Veganos, portanto, não consomem produtos de origem animal ou que tenham sido testados em animais, incluindo alimentos, roupas, medicamentos, calçados, acessórios, produtos de beleza, móveis e artigos decorativos. Por razões óbvias, também se opõem ao uso de animais para entretenimento, como circos, rodeios e zoológicos.

Digno de nota é que a causa animal se interconecta com causas ambientais e sociais. Afinal, a luta pela libertação de seres sencientes da opressão e violência é um movimento por justiça social

Muitos veganos sensatamente evitam produtos veganos fabricados por empresas que exploram animais em seus outros produtos (por exemplo, Seara e JBS). Como a exploração animal é sustentada pelas mesmas forças que impactam o meio ambiente e oprimem a classe trabalhadora (a exemplo das multinacionais que mantêm seus empregados em regimes de trabalho pesados e com baixa remuneração em meio à pandemia do coronavírus, como os matadouros), frequentemente veganos acabam adotando diversas outras causas. Uma delas diz respeito aos direitos dos povos indígenas, que comumente se veem ameaçados pela expansão dos territórios para pastagem de gado e cultivo de monocultura para alimentar animais de produção. 

Mas em sua essência, o veganismo é pelos animais. Assim como toda causa justa, as consequências da libertação animal reverberam para outras áreas, beneficiando humanos e o planeta Terra.


Muitos desconhecedores da causa vegana insistem na ideia equivocada de que o veganismo é elitista, o que não poderia estar mais longe da realidade. A dieta baseada em vegetais é muito mais barata (além de mais variada e sustentável) do que uma alimentação com base em carne, peixe, embutidos, queijos, frutos do mar e outros produtos de origem animal. Ou arroz, feijão, couve, grão-de-bico, lentilha, milho, cenoura, frutas e sementes são mais caros do que picanha, queijo e sushi? 😉

💬Aqui eu dei o exemplo da dieta, mas que fique claro que o veganismo não se limita aos alimentos. No entanto, a maior parte da exploração animal acontece justamente para suprir a nossa gula por produtos de origem animal - por isso as campanhas de conscientização veganas focam tanto na alimentação.

O veganismo está ligado à ética, justiça, compaixão, respeito e sustentabilidade, mas também à liberdade, autoconhecimento e não-dependência. Quando dizemos "não" a produtos de violência (como todos os produtos de origem animal), nos libertamos da escravidão e do vício de PRECISAR de um produto. Quando nos tornamos veganos, não existem mais laços que nos atam ao consumo de produtos que fazem mal para a nossa saúde, destroem o meio ambiente e causam tanta dor física e emocional aos animais. 


Algumas consequências da produção e consumo de alimentos de origem animal incluem:
  • exploração animal (confinamento, abuso, mutilação, inseminação forçada, separação de mãe e filhotes, morte, etc.);
  • desmatamento;
  • emissões gasosas;
  • poluição de solos e corpos hídricos;
  • perda de biodiversidade, com especial impacto sobre a vida marinha;
  • uso recorde de pesticidas e fertilizantes em monoculturas utilizadas para alimentar animais "de produção";
  • competição desleal entre pequenos produtores rurais e grandes lobbies da carne e do leite;
  • alta demanda energética para tratar termicamente ou refrigerar produtos de origem animal;
  • pandemias de origem zoonótica, como a gripe suína, o Ebola, a gripe aviária, a vaca louca e o COVID-19. 

Embora o veganismo tenha uma forte raiz ética, baseada no respeito à vida senciente, a ciência indica que o futuro é vegano principalmente por conta de questões ambientais e de saúde pública. Alimentos de origem animal (carne, leite, peixe, ovos) exercem um enorme impacto no meio ambiente. Ou seja, ao aderir ao veganismo, você não só defende os Direitos dos Animais, como também reduz drasticamente a sua pegada ambiental. 🌱 Além do mais, a pandemia do COVID-19 tem despertado a atenção de governos e cientistas sobre o perigo de se insistir no uso de animais, principalmente para alimentoação. Isso com certeza acelerará o processo de libertação animal.


A ciência por trás do veganismo

A literatura científica aponta para uma direção clara: o veganismo é a solução (ou pelo menos parte da solução) para vários problemas da atualidade, desde questões ambientais até sociais, como a fome. Além disso, é inegável que a rejeição do abuso contra os animais é um importante progresso social, sinal de maior maturidade e evolução moral da sociedade. Eu tenho certeza que criar uma sociedade mais justa e ética é uma questão relevante para você, mas para quem não acha isso importante… existem muitos outros motivos para aderir ao veganismo. Neste artigo, vou abordar três deles. 

1. Eficiência e sustentabilidade



Há um total de 7,8 bilhões de pessoas no mundo em 2020. 🌎 De um ponto de vista da engenharia, cultivar vegetais para alimentar um animal e depois transformá-lo em comida significa perda de eficiência. É muito mais inteligente fazer o caminho direto, isto é, se alimentar de vegetais. Bovinos convertem apenas 4% das proteínas das plantas em carne, o restante é totalmente perdido. 

Uma vaca leiteira consome até 70 kg de alimento e 150 litros de água por dia! E note que além de comida e água, a criação de animais requer outros recursos em grandes quantidades, como por exemplo antibióticos e outras medicações. Para cada 1 litro de leite de vaca são necessários mil litros de água. O volume de água é reduzido em pelo menos 3 vezes para produzir leite vegetal. 

Mas o problema não é só com carne e leite. Por exemplo, para cada 1 kg de peixe pescado nos oceanos, outros 5 kg de peixes sem valor comercial ficam presos nas redes e são jogados fora, um enorme dano à vida marinha. Um total de 23 bilhões de frangos (isso mesmo, bilhões) vivem na Terra para alimentar humanos com carne e ovos. A absurda quantidade de excrementos acidifica solos e oceanos, reduzindo a biodiversidade a níveis alarmantes. 

Neste ritmo, estudos indicam que a nossa capacidade de produção de alimentos será insuficiente muito antes de 2050. Isto é de particular relevância para quem tem filhos ou netos ou para quem simplesmente se importa com o planeta e as próximas gerações.


2. Crise climática



Um compromisso mundial, chamado Acordo de Paris, foi assinado entre 200 países em 2015 para que reduzam as suas emissões gasosas. O objetivo é manter o aquecimento global abaixo dos 2 graus Celsius em relação à temperatura global pré-Revolução Industrial. Acima disso, os danos ambientais serão irreversíveis, indicam cientistas climáticos de várias partes do mundo. 

As cinco maiores empresas produtoras de carne e laticínios no mundo geram mais emissões gasosas do que a ExxonMobil, a Shell ou a British Petroleum. O aquecimento dos oceanos e atmosfera tem aumentado tão rapidamente, que cientistas se referem ao período que estamos vivendo com a sexta extinção em massa – sim, este é o destino que estamos criando com nossos padrões de consumo. 

Pesquisadores renomados afirmam que a medida mais eficaz que podemos adotar hoje como indivíduos é nos tornarmos veganos. Isso porque os combustíveis fósseis e a pecuária são os principais emissores de gases do efeito estufa. Porém, a pecuária não é responsável somente pelas emissões gasosas, mas também pela degradação do solo, contaminação dos oceanos, desmatamento, redução da biodiversidade e assim por diante. 

Assustadores 80% do desmatamento no globo ocorre para cultivar alimento e liberar espaço para pasto para a agricultura animal; na Amazônia esse número sobe para 90%. Além disso, a produção de carne vermelha gera de 10 a 40 vezes mais emissões gasosas do que de leguminosas, que também são uma fonte proteica. Os números são claros.


3. Justiça social



Ao desmatar cada vez mais áreas para a produção de animais para consumo, já que a população está crescendo e o consumo per capita também, nós ameaçamos as populações locais, em especial os povos indígenas. Pelo menos um terço de toda a área cultivável no planeta é usada para cultivar alimentos para animais no agronegócio. Agora um número assustador: apenas 6% da soja produzida no globo é consumida por humanos, uma estatística que não muda muito para outros tipos de grãos. Se todo esse grão fosse distribuído para humanos, nós poderíamos alimentar 3,5 bilhões de pessoas a mais. Isso é muito relevante já que existem quase 1 bilhão de pessoas no mundo em situação de carência alimentar.

A literatura científica a respeito da relação entre alimentos de origem animal e dano ambiental é rica, clara e crescente. A cada refeição você pode escolher entre ser a solução ou a causa do problema, lembre-se disso.


Abaixo desta mensagem disponibilizo as referências (e respectivos links) utilizadas neste post. Em sua maioria, tratam-se de artigos científicos publicados nas revistas de maior prestígio do mundo, como a Science e a Nature. Dezenas de outros trabalhos de qualidade estão disponíveis nas bases de dados científicas. 

📣Um vídeo sobre a intersecção entre direitos dos animais, direitos humanos e meio ambiente está disponível no canal do Gaia Vida Consciente (clique aqui). 

O conteúdo deste post também está disponível de forma simples e objetiva no vídeo que gravei para o canal Vegflix (clique aqui). 

Se quiser ajuda para se tornar vegano, entre em contato pelo gaiavidaconsciente@gmail.com. A transição é fácil e simples, e te prometo que você vai lamentar nunca ter tentado antes!

Texto por Dra. Camila Perussello, PhD em Engenharia de Alimentos.

Referências

1. Shepon, A. et al. (2016). Energy and protein feed-to-food conversion efficiencies in the US and potential food security gains from dietary changes. Environmental Research Letters, 11(10). Link

2. Poore, J. & Nemecek, T. (2018). Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers. Science, 360(6392). Link

3. Clune, S. et al. (2017). Systematic review of greenhouse gas emissions for different fresh food categories. Journal of Cleaner Production, 140, 766–83. Link

4. Tilman D. & Clark M. (2014). Global diets link environmental sustainability and human health. Nature, 515: 518–22. Link

5. Willett et al. (2019). Food in the Anthropocene: the EAT–Lancet Commission on healthy diets from sustainable food systems. Link

6. Springmann, M. et al. (2018). Health and nutritional aspects of sustainable diet strategies and their association with environmental impacts: a global modelling analysis with country-level detail. Link

7. Whyte, C. (2018). Milk alternatives: which are good for both you an the planet. Link

8. Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO). Discards and bycatch in shrimp trawl fisheries. Discards and bycatch in shrimp trawl fisheries. Link

9. Foer, J. S. (2019). We are the weather – Saving the plane begins at breakfast.

10. Scientific American (2011). How does meat in the diet take an environmental toll? Link

11. Oppenlander, R. (2013). Animal agriculture, hunger, and how to feed a growing global population, Part two of two. Link

12. Vergunst, F. & Savulescu, J. (2017). Five ways the meat on your plate is killing the planet. Link

13. Good, K. (2015). Explain like I’m 5: Why tofu is not responsible for soy-related deforestation. Link

14. Institute for Agriculture and Trade Policy and GRAIN (2018). Emissions impossible - How big meat and dairy are heating up the planet. Link

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